11/13/2006

Público : Hezzbollah ameaça levar crise à rua

Hezbollah ameaça levar crise política à rua

Dulce Furtado


O Presidente Emile Lahoud considera que o Governo perdeu legitimidade

O partido xiita libanês Hezbollah ameaçou ontem fazer manifestações de protesto nas ruas de Beirute, na sequência da crise política aberta na véspera com o colapso das negociações de formação de um Governo de unidade nacional. O partido xiita e pró-sírio pretendia obter um maior número de lugares no Executivo, suficientes para deter poder de veto.
A declaração de fracasso nas conversações foi dada sábado, quando os cinco ministros xiitas do Executivo libanês - do Hezbollah e do movimento Amal - apresentaram as suas demissões ao primeiro-ministro, Fouad Siniora. "Esse foi o primeiro passo e outros se seguirão que anunciaremos gradualmente", declarou ontem à Reuters um dos líderes do Partido de Deus, o xeque Naim Kassem, confirmando que "descer às ruas é um dos passos importantes que o Hezbollah e aliados irão tomar".
Kassem culpou os líderes da maioria anti-síria do país, acusando-os de se recusarem a permitir que outros tenham uma efectiva participação na governação: "O grupo maioritário do Parlamento bloqueou por completo qualquer possibilidade de diálogo porque quer ter o monopólio das decisões neste país. E isso é algo a que nos recusamos a assistir".
A coligação anti-síria contra-atacou, sugerindo que o Hezbollah criou esta crise com o propósito de bloquear um tribunal onde agentes de segurança sírios e aliados libaneses seriam julgados pelo assassínio do antigo primeiro-ministro Rafiq al-Hariri, morto num atentado em 2005.
O Presidente libanês, Emile Lahoud, declarou ontem que o Governo perdeu a legitimidade, apesar de constitucionalmente as cinco demissões não fazerem cair o sunita Siniora, que comanda a maioria dos 128 assentos parlamentares. Mas num sistema político baseado em consensos entre as diferentes confissões, a ausência de xiitas - a maior comunidade - pode facilmente enfraquecer o primeiro-ministro.
Esta crise política estilhaçou por completo a imagem de unidade nacional mantida durante a guerra que o Partido de Deus travou com Israel em Julho e Agosto passados e poderá levar, a curto prazo, a confrontos nas ruas de Beirute, alertava ontem a Reuters.
Os líderes libaneses anti-sírios avisaram que responderão com manifestações, caso o Hezbollah leve a crise política para as ruas - o que está a aumentar os receios de confrontos e violência, num momento de crescente tensão, e pode pôr em risco as capacidades de persuasão do Líbano junto dos doadores da comunidade internacional, que reúnem em Paris em Janeiro.