10/01/2006

Cobardia e Loucura



A cobardia e a loucura



Luís Delgado
Jornalista

1. Durão Barroso, na sua qualidade de presidente da Comissão Europeia, mostrou-se agastado pela fraca defesa, ou nenhuma, que a Europa democrática, cristã e humanista, tem feito do Papa, vilipendiado e "marcado" pelos extremistas do islão, que nada permitem, nem mesmo uma referência histórica, à sua religião e ao seu profeta.

Carlos Magno, na sexta-feira, na sua qualidade de comentador do Contraditório, já tinha levantado a questão, com a sua característica veemência. Que seria de nós se um dia se fizesse um filme menos correcto sobre o profeta do islão ou um livro como o Código Da Vinci?! Era o fim do mundo, literalmente.

É essa a nossa diferença, e superioridade moral, da qual nunca deveremos ter medo, ou abdicar, em nome das ameaças de grupos fanáticos que ameaçam as nossas democracias.

A Europa, mas todo o mundo ocidental, cristão e democrático, tem mostrado a sua verdadeira faceta perante esta crise, que não passa de uma lividez receosa, que não inspira nada de bom para o nosso futuro como civilização moderada e respeitadora do Homem.

Há fronteiras que não se passam, ou deixam passar, e esta cobardia colectiva não augura nada de bom.

Hoje foi assim, mas amanhã viveremos num mundo de trevas, com medo de falar e pensar. É esse mundo, horrendo, medieval, brutal e sem nenhum respeito por nada nem ninguém, que se levantou contra o Papa, e que viu, sem surpresa, uma Europa vacilante, medrosa e inquieta. Pagaremos caro, mais década menos década, por esta cobardia colectiva.

2. A Assembleia Geral das Nações Unidas transformou-se, infelizmente, e muito pela falta de vigor e credibilidade dos nossos actuais líderes, num palco para líderes bizarros, tresloucados, que dizem as maiores barbaridades e proferem insultos impensáveis, de um tribunal que deveria ser uma fonte de bom senso para o mundo.

Alguém se indignou com o discurso (?) de Hugo Chávez contra Bush, que qualificou de Diabo? Alguém o avisou por tamanha insanidade mental? Em qualquer Parlamento a palavra seria retirada ao orador, que jamais voltaria a proferir uma palavra que fosse, daquele local.

Mas no palco das Nações Unidas o circo saiu à rua, as feras lançaram-se ao ataque, e a única reacção variou entre gargalhadas sonoras e sorrisos escondidos. Em que mundo vivemos, afinal?

O que seria, de escândalo e levantamento popular, se Bush tivesse usado dessas expressões de mau gosto, e intoleráveis, para qualificar a passagem de Chávez pelo pódio da ONU...

3. Por falta de adversário à altura, e também por popularidade inegável, Lula da Silva vai ser reeleito para o segundo e último mandato presidencial. Merece?

Os brasileiros lá sabem, e se lhe vão dar uma maioria tão substancial, como indicam as sondagens, é porque estão minimamente satisfeitos com o desempenho do seu presidente, apesar de todas as amarguras de última hora.

Convém, contudo, não ser ingénuo: é sempre por estas alturas, a dias das eleições - cópia fiel da política eleitoral americana - que surgem grandes escândalos, e notícias sensacionais, que depois morrem com o tempo e o resultado eleitoral.

Em qualquer caso, o sistema permitiria investigar a fundo e determinar o afastamento do Presidente, se tudo se confirmasse, como aconteceu com Collor de Mello, de má memória para os brasileiros.

Lula, contudo, tem-se mostrado um sobrevivente, habituado aos altos e baixos da política, e capaz de vencer, sem grande esforço, qualquer campanha assassina. É um caso extraordinário, diga-se, de um político eternamente dado como "morto", que perdeu quatro eleições, e que à quinta chegou ao Palácio do Planalto. Uma lição que muitos portugueses deveriam ter em conta..

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