9/29/2006

O Crescente e a Cruz


O Crescente e a Cruz.

1- A Palestra do Papa.
Dia 9 de Setembro de 2006 O Papa inicia uma visita à Alemanha .
4 dias depois , a 13 de Setembro, o Sumo Pontífice faz uma palestra na universidade . Regensburg onde havia ensinado Teologia entre 1969 e 1977.
O tema central da palestra é a fé , a razão.
Numa primeira parte da comunicação o Papa refere-se ao Islão.
Numa segunda parte da palestra o Papa debruça-se sobre a relação entre a razão e a fé no ocidente mas essa segunda parte da palestra do Sumo Pontífice não será aqui abordada..
O Papa inicia o discurso recordando que quando leccionava na Universidade de Bona , uma vez por semestre estudantes e professores reuniam-se e discutiam entre si todas assuntos referentes a todas as áreas do conhecimento .
Esse livre exercício da razão era por todos aceite.- Diz o Papa .
A seguir o Sumo Pontífice refere que a leitura de um texto escrito pelo Imperador Bizantino Manuel II. , em 1494 lhe trouxe à memória essas recordações.
Nesse texto escrito provávelmente pelo próprio Imperador Bizantino entre 1394 e 1402 , reproduz-se uma conversa ocorrida entre este e um erudito muçulmano.
No diálogo confronta-se a fé cristã com o Islão.
Diz o Papa na sua palestra:
" Na sétima conversa editada pelo professor Koury , o imperador aborda o tema da guerra santa . /..../.
E um pouco mais à frente o Papa continua : " Sem descer a pormenores tais como a diferença de tratamento dada pelos muçulmanos aos detentores do livro [ cristãos e judeus] e aos infiéis ,
o imperador refere-se com surpreendente brusquidão , uma brusquidão que nos deixa atónitos, à questão central da relação entre a violência e a fé .
" Mostrai-me o que Maomé trouxe de novo e aí só encontrareis coisas ruins e desumanas ,tais como o seu mandamento de espalhar a fé que ele pregava através da espada ".
Após citar estas palavras do Imperador Manuel II , o Papa continua :
" Depois de se ter exprimido de forma tão enérgica o Imperador detalha as razões pelas quais espalhar a fé através da espada é algo irracional . A violência é incompatível com a natureza de Deus e a natureza da alma . " Afirma o Imperador Bizantino "Deus não se alegra com sangue e agir de uma forma irracional é contrário à sua natureza."- declara Manuel II. " A fé nasce do espirito e não do corpo . Quem quer que deseje guiar outro para a fé tem de usar a eloquência e raciocinar de forma correcta sem recorrer à violência ou ameaças/..../".
Depois de citar Manuel II , o Papa continua:
A afirmação decisiva neste argumento contra a conversão forçada é a seguinte : Não agir de acordo com a razão é contra a natureza de Deus".
Os muçulmanos não irão gostar de se ver retractados como tendo uma fé que se expande através da espada.
Para além disto o Papa cita também o editor Theodore Koury .
Este afirma que " para o ensinamento muçulmano Deus é uma entidade completamente transcendente que não está limitada por nenhuma das nossas categorias, nem mesmo pela categoria da razão "
Esta afirmação de Theodore Koury de que o Deus muçulmano não se encontra limitado por nenhuma categoria da razão também não irá cair bem em alguns círculos Islâmicos


2 - A Reacção do Islão
15 de Setembro , Sexta Feira, o website Al Jazeera noticia que líderes religiosos muçulmanos criticaram declarações do Papa.
Na mesma noticia refere-se que no Egipto o Chefe da irmandade Muçulmana havia apelado a que os países islâmicos cortassem relações com o Vaticano no caso do Papa não retirasse as afirmações que havia proferido.
Reagindo a uma onda de críticas logo na quinta feira 14 de Setembro um porta voz do Vaticano divulga um comunicado em que se pode ler que não havia sido intenção do Papa realizar um estudo aprofundado sobre noção de jihad.
Ainda menos havia sido intenção do Papa ofender a sensibilidade dos crentes muçulmanos – Podia ler-se nesse comunicado.
O Santo Padre deseja cultivar uma atitude de respeito e diálogo com religiões e culturas , incluindo evidentemente o Islão , afirma-se .
Estas declarações do Vaticano não serão porém suficientes para acalmar os ânimos , e os protestos do Islão continuarão.
A 15 de Setembro, o Parlamento do Paquistão adopta por unanimidade uma declaração condenando as declarações do Sumo Pontífice e solicitando que este peça desculpa pelas afirmações feitas..
A 16 de Setembro a Associated Press noticia que o partido no poder na Turquia acusa o Papa de fazer reviver a mentalidade das Cruzadas.
O Primeiro Ministro da Malásia e Presidente da Organização da Conferência Islâmica , afirma também que o Papa deve pedir desculpa pelas afirmações feitas , noticia-se no mesmo texto da associated press.
16 de Setembro a agência de notícias do Kuwait refere que.
numa declaração publicada num jornal saudita a mais alta autoridade deste país condenou vigorosamente as falsas afirmações do Papa e afirmou que o Islão é uma religião de Paz que abomina a violência e o terrorismo .
Como que respondendo às afirmações do Imperador Manuel II , citadas pelo Papa, "O Sheik Saudita afirmou também que o Islão se havia espalhado porque os povos o haviam aceite ".
Ainda a, 16 de Setembro, o Secretário de Estado do Vaticano divulga nova declaração onde se pode ler que o facto de o Papa citar palavras do Imperador Manuel II , não significa ele as subscreva.
Mas os protestos continuam.
15 , 16 de Setembro cocktails mollotof são arremessados contra igrejas cristãs palestinas.
Domingo 17 de Setembro o Primeiro Ministro Palestino Haniyeh irá condenar estes ataques.


3 Declaração Pessoal do Papa
Domingo ,17 de Setembro , da varanda da sua residência de verão em Castel Gandolfo , perante centenas de fiéis é o próprio Papa em pessoa que declara
encontrar-se profundamente desolado pelas reacções suscitadas em alguns países por algumas passagens da sua palestra consideradas ofensivas para muçulmanos.
Essas passagens eram parte de uma citação de um texto medieval de um que de nenhuma forma reflecte o meu pensamento , refere o Sumo Pontífice.
O Papa diz ainda que espera que as suas palavras contribuam para pacificar os corações e clarificar o verdadeiro sentido da sua palestra que na sua totalidade apelava e apela para um diálogo franco e sincero , no respeito mútuo.
Segunda Feira num acontecimento sem precedentes o jornal do Vaticano ossevatore romano de segunda feira , publica as declarações do Papa em várias linguas , Arábico incluído.
A reacção do mundo Islâmico é mista.
Enquanto eruditos muçulmanos indonésios se dizem satisfeitos com as palavras de Bento XVI proferidas domingo ,
A universidade de al-Azhar al-Shareef no Cairo , uma das mais respeitadas instituições académicas sunitas, emite comunicado onde se pode ler :
"O papa tem de apresentar pedido de desculpa fazendo mais uma declaração onde claramente rejeite as afirmações do Imperador Bizantino"
Na quarta feira 20 Bento XVI em pessoa , uma vez mais comenta a sua palestra de 12 de Fevereiro
"Para um leitor atento da minha palestra é claro que de nenhuma forma desejei fazer minhas as palavras negativas em relação ao Islão, pronunciadas pelo Imperador medieval , e o conteúdo polémico dessas afirmações não reflecte as minhas convicções pessoais".
-Afirmou o Papa na Praça de S Pedro ,em Roma.
O Papa declarou que nessa palestra havia desejado explicar que a razão e a religião eram compatíveis, não a religião e a violência.
O Papa afirmou também o seu profundo respeito pelos muçulmanos que ,segundo referiu , adoram o deus único e com os quais os católicos estão empenhados em defender e promover a justiça social , os valores morais , a paz e a liberdade de toda a humanidade

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