Quem matou o Coronel ?
5 perguntas sem resposta
Na investigação sobre quem assassinou o coronel Ubiratan, ainda há mais dúvidas que certezas
Andréia Leal e Wálter Nunes
O coronel da Polícia Militar Ubiratan Guimarães, de 63 anos, deputado estadual em São Paulo e candidato à reeleição, tinha, de acordo com familiares, sete armas em casa. Quando saía, carregava um revólver calibre 38. Mesmo assim, Ubiratan foi apanhado de surpresa. Ele foi assassinado na noite do sábado 9, em seu apartamento, em São Paulo. De acordo com a versão oficial, o corpo foi encontrado no domingo à noite por seus assessores, Eduardo Anastasi e coronel Gérson Vitória. Ubiratan estava caído no chão da sala, enrolado numa toalha de banho, com uma perfuração de bala no lado direito do abdome.
O coronel ficou conhecido por ter comandado a invasão policial ao presídio do Carandiru, em 1992, que terminou com 111 presos mortos. O episódio ficou conhecido mundialmente e foi censurado por dezenas de organizações de defesa dos direitos humanos. Em 2001, Ubiratan fora condenado a 632 anos de prisão, mas no início deste ano foi absolvido. Era militante da linha dura da polícia e vivia recebendo ameaças de morte. Por isso, as suspeitas iniciais ligaram o assassinato a integrantes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). A cena do crime sugeriu aos investigadores, porém, que o assassino seria alguém próximo do coronel. Não havia sinal de arrombamento e nada foi roubado. A polícia começou a trabalhar imediatamente com a hipótese de crime passional. A investigação se voltou então para a namorada do coronel, a advogada Carla Cepollina, de 40 anos, última a ser vista saindo da casa de Ubiratan.
As investigações são conduzidas pelo Departamento de Homicídios. Fora da delegacia, o advogado da família de Ubiratan, Vicente Cascione, trava uma guerra de acusações com Carla. Em depoimento, ela negou ter matado o coronel e levantou suspeitas sobre seus assessores, Eduardo Anastasi e Gérson Vitória. Cascione reforça as suspeitas sobre Carla: relata crises violentas de ciúme e insiste na tese de crime passional. As versões conflitantes, a troca de acusações e as lacunas na investigação deixam perguntas no ar. A seguir, as principais dúvidas sobre o crime.
1 Qual era a relação entre Carla, Ubiratan e os assessores dele?
Carla e Ubiratan se conheceram há quatro anos. Namoravam havia cerca de dois. Recentemente, segundo parentes e amigos dele, a relação andava turbulenta. O coronel era conhecido por ser mulherengo. Isso provocava ciúme em Carla. Vicente Cascione, o advogado da família de Ubiratan, afirma que o coronel tinha um relacionamento amoroso com a delegada da Polícia Federal Renata Madi. Na quinta-feira, investigadores da Polícia Militar ligados a Ubiratan afirmaram ter descoberto que ele também teve um caso com uma moradora de seu prédio - uma mulher casada. Carla afirmou em seu depoimento ter discutido com o coronel por causa de Renata Madi, mas disse que o namoro ia bem e os dois pensavam até em morar juntos. O fato de o coronel tê-la nomeado, em agosto, assessora parlamentar de seu gabinete, revela que eles ainda tinham uma relação próxima.
A presença de Carla irritava assessores de Ubiratan, segundo alguns deles. Eduardo Anastasi, homem de confiança de Ubiratan, que controlava sua agenda e suas finanças, reclamava das interferências dela na vida profissional do chefe. Ele afirma que, recentemente, teve discussões com Ubiratan. "Eram desentendimentos profissionais. Nada fora do comum", diz Anastasi. Ubiratan também discutira recentemente com o coronel Gérson. Carla disse à polícia que Ubiratan estava insatisfeito com os assessores e decidira demiti-los.
2 A que horas morreu o coronel?
O delegado Armando Costa Filho afirma que Ubiratan foi morto entre as 19h30 e as 20h30 do sábado. Mas, até a tarde da sexta-feira, a perícia ainda não havia divulgado laudo oficial. Saber o horário com maior precisão é crucial, pois a própria Carla afirmou à polícia ter permanecido na casa do namorado entre 18 horas e 20h30. Imagens do circuito interno do prédio onde ela mora registram sua chegada às 21h06. A delegada Renata Madi afirma que Ubiratan respondeu a um telefonema dela por volta das 19 horas. Uma vizinha do coronel relatou à reportagem de ÉPOCA ter ouvido um barulho forte entre 19 horas e 19h30, que imaginou ser uma vidraça se estilhaçando. A polícia suspeita que esse tenha sido o momento do tiro. Se Ubiratan foi realmente assassinado entre 19h30 e 20h30, Carla teria cometido - ou pelo menos presenciado - o crime. Mas, se o barulho ouvido pela vizinha não foi um tiro e se a perícia constatar que a morte ocorreu após as 20h30, o assassino poderia ser outro.
3 Qual foi e onde está a arma do crime?
Uma das armas que ficavam na casa do coronel, um revólver calibre 38, sumiu. Era, segundo Anastasi, essa a arma que Ubiratan levava quando saía de casa. Quando voltava, costumava deixá-la em cima do bar da sala. O revólver desaparecido carregava um tipo especial de munição, feito por um amigo para Ubiratan. O advogado Vicente Cascione (o mesmo que conseguiu absolver Ubiratan no processo do massacre do Carandiru), afirma que o projétil que matou o coronel é desse mesmo tipo. Para Cascione, Ubiratan foi morto com um tiro da própria arma. O laudo pericial que poderia confirmar essa informação não havia saído até o fechamento desta edição.
4 Carla Cepollina lavou a roupa que usava na noite do crime antes de entregá-la à polícia. Por quê?
A polícia recolheu a roupa da advogada para realizar perícia que detecta resíduos de pólvora ou sangue, mas as peças haviam sido lavadas e ainda estavam molhadas. Na versão de Carla, ela chegou em casa e botou as roupas para lavar, como faria em qualquer outra situação, e só depois soube do crime. Se ela realmente for a assassina, teria feito isso para eliminar provas.
5 Por que a polícia demorou a entregar aos peritos do Instituto de Criminalística os objetos recolhidos no local do crime?
No apartamento de Ubiratan, policiais recolheram copos, uma toalha com sangue, a bala do crime (encontrada alojada no sofá da sala onde o coronel estava caído), o aparelho de telefone e três celulares. Os objetos só foram enviados à perícia na quinta-feira, cinco dias depois do assassinato. A demora prejudica a investigação: com o passar dos dias, substâncias como sangue ou álcool podem se deteriorar. O delegado Armando Costa Filho afirma não ter mandado antes o material porque aguardava o reconhecimento de algumas peças pela família. Especialistas ouvidos por ÉPOCA afirmam que esse não é o procedimento normal. "O atraso é estranho, principalmente num caso de grande repercussão como este", diz Luiza Nagib Eluf, procuradora do Estado de São Paulo.
Clique aqui para voltar à página inicial do meu jornal
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home